Porque será que temos tantas orientações diferentes sobre a temperatura ideal para misturar a essência na cera?
Simples: porque temos vários tipos de ceras e essências, produzidas com diferentes matérias primas e isso pode alterar totalmente o processo. Mas o que eu vou te explicar aqui é um dos segredos mais importantes para o sucesso de uma vela aromática.
O que acontece quando você mistura a essência na cera?
Quando a essência entra em contato com a cera derretida, ela precisa se misturar de forma completa e uniforme.
Pra isso, a cera precisa estar na temperatura certa, nem quente demais, nem fria demais.
Se a cera estiver muito quente, as notas de topo da fragrância, que são mais leves podem começar a evaporar, e o aroma enfraquece tanto na vela fria (cold throw) quanto na queima (hot throw).
Se estiver muito fria, a cera começa a endurecer antes da hora, e a essência não consegue se espalhar direito dentro das moléculas da cera, o que pode causar manchas, essência descendo para o fundo da vela. É aquela vela que durante a queima oscila, você sente ela exalar, de repente já não sente mais nada…Porque criaram-se esses “bolsões” de essência mal misturada.
Por isso, o segredo é encontrar o ponto certo de calor, onde a cera ainda está bem líquida, mas não quente o suficiente pra queimar ou evaporar o perfume.
Tipos de ceras
As ceras mais “duras” como parafina e cera de abelha, vão exigir mais temperatura para permitir que a essência se misture de forma homogênea, alguns citam em torno de 75°C a 88°C. São ceras com alto ponto de fusão, e precisam de mais temperatura para permitir que as moléculas se abram e a essência possa entrar e se misturar corretamente.
Para as velas aromáticas, usamos os blends com ceras vegetais, como soja, cera de coco, palma, e óleos como o palmiste. Esses blends de ceras, manteigas e óleos baixam o ponto de fusão da cera, o que significa que elas demoram mais para solidificar e nos permite misturar as essências em temperaturas mais baixas, na faixa de 55°C a 80°C. Esse é um range bem grande, e indicado por empresas que produzem as essências.

Na minha pesquisa identifiquei que a maioria dos especialistas fora do Brasil indicam misturar a essência na cera a 85°C. Então se você mora fora do Brasil e vai usar os blends de soja como a Nature Wax ou Golden Wax, essa parece ser a temperatura mais indicada para iniciar os seus testes.

Porém aqui no Brasil, a maioria dos forneccedores indicam não aquecer a cera vegetal acima de 70 ou 80°C pois as altas temperaturas podem degradar os óleos naturais que são misturados nos blends.
Minha opinião sobre o tema: Se você vai produzir velas em moldes, vai usar uma cera mais durinha como Ecomix ou Cera de Coco Tipo Dura, eu indico misturar a essênca na cera acima de 70°C. Para velas aromáticas em recipiente e blends de cera de coco, eu particularmente gosto de trabalhar com 65°C.
Cinara mais nessa temperatura a essência não vai evaporar toda?????
Não! Vamos entender o segundo ponto, a Essência.
Essências
Quando você compra uma essência de canela por exemplo, e vai olhar as informações dela, vai encontrar a sua pirâmide olfativa, vai descobrir que não tem só a canela na sua essência, mas várias notas, separadas em notas de topo, coração e fundo.
As notas da pirâmide olfativa nos fazem entender que cada essência é uma mistura de moléculas com pesos moleculares diferentes:
As mais leves (notas de topo) evaporam rápido;
As médias (coração) ficam estáveis por mais tempo;
As pesadas (fundo) fixam e sustentam o aroma durante a queima.

Uma essência com boa performance precisa ter essas três notas bem equilibradas. Mas o que isso tem haver com a nossa temperatura de mistura?
Na prática eu comecei a perceber que algumas essências precisam de mais temperatura para se misturar corretamente na cera.
Por exemplo: na minha loja, trabalho com uma essência de Palo Santo, que possui uma pirâmide olfativa rica em notas de fundo. Essa essência é naturalmente amarelada e mais espessa.
No primeiro lote de velas aromáticas que produzi com ela, fiz a mistura a 65 °C no meu blend de cera de coco. Fui envasando as velas normalmente, mas quando cheguei à última, percebi que havia uma grande quantidade de essência concentrada no fundo da jarra, ela já não se misturava bem à cera, que naquele momento estava por volta de 60 °C.

Ao testar uma das velas, o resultado foi decepcionante: a fragrância quase não se espalhava no ambiente. Então, derreti novamente todo o lote e refiz o processo, dessa vez aquecendo até cerca de 68 °C e misturando por mais tempo para garantir a homogeneização completa.
O resultado foi muito superior, com uma vela de ótimo desempenho e excelente liberação de aroma.
Significa que toda vela de Palo Santo ou com predominância de notas olfativas de fundo vão precisar ser misturadas em temperaturas mais altas?
Não necessariamente, pois cada fornecedor tem a sua essência de Palo Santo que podem ser totalmente diferentes…algumas podem ter mais notas de topo ou mais notas de corpo, ou serem menos concentradas, o que vai facilitar a mistura na cera em temperaturas mais baixas. Mas agora com essa informação, você vai observar melhor o que está acontecendo no processo e vai conseguir resolver os problemas práticos do dia a dia da produção de velas.
Agora você entendeu que as essências tem diferentes notas e que elas evaporam em diferentes temperaturas, saiba que você não vai perder toda a essência se misturar ela acima de 60°C! Mas é normal que algumas notas mais voláteis comecem a subir assim que você retira a essência do frasco e mistura na cera.
Ponto de Fulgor (Flashpoint)
O ponto de fulgor é a temperatura na qual um óleo essencial ou fragrância pode entrar em combustão se exposto a uma chama ou faísca. É uma informação que está na ficha técnica das essências por questão de segurança e muitas vezes Legislação para transporte. Líquidos com baixo ponto de fulgor não podem ser transportados por avião por exemplo, e os veículos que fazem o transporte precisam de uma identificação.
Essa informação começou a ser veiculada como sendo a base para sabermos a temperatura para misturar a essência na cera, eu ouvi fabricantes falando sobre isso, porém alguns especialistas e empresas como a Candle Science garantem que essa temperatura não faz a menor diferença para o processo de produção da vela, pois o ponto de fulgor é especifico da essência se ela for aquecida sozinha, quando ela é misturada a cera esse ponto de fulgor aumenta muito não fazendo sentido usar como base no processo de produção
Conclusão
Em resumo, a temperatura ideal para misturar a essência na cera não é uma regra fixa, mas sim o resultado de observação, testes e conhecimento da sua matéria-prima.
Cada tipo de cera, cada essência e até o ambiente em que você trabalha podem influenciar o resultado final.
Por isso, registre seus testes, observe o comportamento das notas olfativas e busque sempre o equilíbrio entre temperatura e tempo de mistura.
A vela perfeita nasce da combinação entre ciência e sensibilidade artesanal, e agora você tem as duas ferramentas nas mãos.
Assista meu vídeo completo no Youtube:
✨ Conheça o curso Jornada dos Aromas
Dentro dele, eu te ensino tudo o que você precisa para criar velas artesanais de alto nível:
🔸 Fórmulas detalhadas e testadas
🔸 Planilhas automáticas de cálculo
🔸 Técnicas de segurança e estética
🔸 E ainda, meu acompanhamento para tirar dúvidas e te guiar nessa travessia! Clique na imagem abaixo para saber mais!

Todo o conteúdo deste blog é protegido por direitos autorais.
A reprodução, total ou parcial, sem autorização prévia, é proibida por lei (Lei nº 9.610/98).

